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De Fabiano Marques

“Minha receita para uma residência de arte realmente transformadora:
• Chegue antes da data marcada.
• Vá embora depois do combinado.
Uma constante nas experiências de residências de artes é a de que o tempo disponível é sempre insuficiente para se conhecer o entorno e as pessoas envolvidas e também para se realizar as idéias que naquele lugar e momento surgirem: isso se verifica, quer a residência dure uma semana; quer dure seis meses.
Essa simples quebra de protocolo, de se propor a ficar mais tempo do que o que fora acertado desmancha qualquer máscara social e tenciona a hospitalidade, traço característico das residências de arte. Hospitalidade que ganha relevo quando pensamos no Brasil; e, mais ainda, no Recife, cidade-coral com tocas de vida pulsante por todos os lados. A resposta do B.O. a esta folga minha foi uma hospitalidade ampliada, uma pós-hospitalidade, da qual só consegui escapar - sob risco de ali passar uma temporada - me auto-chantageando com férias de windsurfe (meu ponto fraco) em uma praia distante.
Fui para o Recife com algumas idéias do que eu poderia desenvolver lá. Nada muito elaborado além de dois ou três temas e uma proposta de exercício coletivo para conhecer os demais condôminos em atividade sem ter de passar por pilhas de portfólios que muito servem na relação artista-curador, mas que em geral são apenas papéis de texto e imagem que se intrometem na relação artista-artista. As idéias avançaram nas pessoas, umas latindo, outras mordendo e logo as levamos para passear. Melhor dizendo, as idéias é que nos levaram a deriva pela cidade e de volta ao portão.
A abertura da exposição foi uma festa onde apresentamos os trabalhos em estágio de fantasia improvisada de carnaval. De lá para cá, tenho trabalhado em ritmo muito mais lento em algumas daquelas idéias e em particular uma que me surgiu olhando as nuvens de fim de tarde a partir da Casa de Banhos, e da qual não apresentei nem um esboço na exposição. Talvez este seja apenas um lugar-comum, mas fico aguardando, tal qual a maré, por outra oportunidade para de novo sobre os recifes me lançar e mais uma vez me atrasar na partida sob a desculpa de que foi a Lua Nova (ou Cheia) que não me deixou ir embora antes”.



De João Manoel Feliciano
“Estava realmente com muita expectativa de como seria trabalhar em
grupo no projeto de residência. A idéia e o fato de receber um artista de fora me fizeram um pouco de fora também, me fez um pouco artista turista em meu próprio ambiente. As chuvas de junho na Rua do Lima, a loja maçônica escondida atrás do Habibs da Boa Vista, foram tempos e lugares revisitados pela primeira vez, quando pensei ver como Fabiano veria.
Já a oportunidade de trabalhar com uma artista próxima e colega de coletivo, é preciosa quando você percebe que não conhece tão bem, os detalhes a montagem as possibilidades de dialogo com o seu trabalho. Tudo isso amplia e engradasse esse contato artístico. Embora a maneira de trabalho, os conceitos e a formulação espacial fossem bastante heterogêneas, não tive problemas de dialogo com Fabiano e Luciana, foi interessante perceber nesses dois artistas a maneira como criam. Fabiano sempre fazendo projetos e os mudando a todo o momento, Luciana com suas idéias procurando espaços. Então foi tranqüilo, gratificante e agradável, sair nas ruas em dia de chuva procurando uma traquitana de máquina fotográfica tirar fotos no carro de pipoca. Achando em tudo uma ligação com minha pesquisa Capillus exposta no conjunto desse Piso Escorregadio”.



CARDÁPIO DA SEMANA

Piso escorregadio

O titulo da exposição refere-se a residência artística como uma travessia por um território de incertezas que apresenta, tanto, perigos; quanto oportunidades de descoberta. O piso desliza e se prolonga também no tempo. O piso escorregadio é por essência o espaço da arte.
 

Texto para catálogo do Projeto Condomínio Branco do Olho
Residência artística que teve como resultado exposição
'Piso escorregadio' de Luciana Padilha, Fabiano Marques e João Manoel Feliciano
2009

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